quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

 O Presidente da Comissão de Anistia e Secretário Nacional de Justiça  Dr. PAULO ABRÃO e BETINHO DUARTE  visitaram as obras do Memorial da Anistia Política do Brasil em Belo Horizonte .No que concerne a  parte fisica do prédio do Coléginho , ex Colégio Aplicação ,já estão  praticamente prontas. No terreno próximo ao Memorial está sendo construido pela Prefeitura de Belo Horizonte uma UMEI-Unidade Municipal de Educação Infantil. Funcionários da empresa  estavam desmontando o canteiro de obras para o início efetivo da construção do Memorial.  19/12, quarta feira

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Hoje,quarta feira, dia 19/12, Dr. Paulo Abrão e Betinho Duarte visitaram as obras do Memorial da Anistia Política do Brasil que nestá sendo construido em Belo Horizonte, na ex-Fafich. Funcionários da empresa contratada pela PBH para construção da UMEI - Unidade Municipal de Educação Infantil  estavam desmontando o canteiro de obras para o início efetivo das obras do Memorial.
Participei , hoje , dia 19/12, quarta feira , no BDMG, a convite do Dr. Paulo Abrão, Secretário Nacional de Justiça,do lançamento do PROGRAMA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS.
O Tráfico de pessoas é o terceiro mais lucrativo do mundo , só perde justamente para o de drogas e de armas. A cada ano , esse crime movimenta cerca de 32 bilhões de dólares e faz pelo menos um milhão de novas vitimas.De cada três pessoas traficadas no mundo , duas são mulheres. E de cada 10 mulheres traficadas, oito são exploradas no mercado do sexo.
www.escravonempensar.org.br

terça-feira, 18 de dezembro de 2012


Carta ao amigo que se suicidou
Ricardo Gondim
Por que morreste?
Quisera dar-te, amigo, as coragens que me fizeram um menino ousado na conquista da primeira namorada. Dar-te-ia também os medos que frearam a ensandecida ladeira por onde eu podia despencar na irresponsabilidade juvenil. Se pudesse, cortaria um pedaço do coração, transplantaria para teu peito a felicidade do beijo que desvirginou os meus lábios. Eu te diria que o amor resiste ao tempo e que as boas memórias que carregamos transformam qualquer tristeza em alegria. Eu te diria que tua vida ainda seria brindada por coragens e medos, alegrias e tristezas.
Quisera poder te chamar para pedalar ao meu lado até a mangueira grande e discreta, onde, solitário, confidenciei em solilóquios intermináveis alguns sonhos impossíveis. Lá veríamos juntos que, se todos os sonhos não se cumprem, persegui-los dá algum sentido à nossa vida banal.
Quisera dar-te, amigo, todos os questionamentos e descobertas que fiz sobre o mistério de Deus. Eu te convidaria a assistir ao meu primeiro rasgo de conversão. Tu serias testemunha de como, hesitante, desejei a verdade – a mesma verdade que insiste em distanciar-se de mim sempre que imagino tê-la em meus braços.
Quisera fazer-te parceiro de minha Primeira Comunhão católica em Londrina. Depois eu te chamaria para presenciar a noite de minha Profissão de Fé presbiteriana. Tu me acompanharias à vigília de oração onde recebi o Batismo no Espírito Santo pentecostal. Daí eu gostaria de conversar contigo sobre minhas recentes aberturas para uma espiritualidade existencial, comprometida com o aqui e agora.
Quisera poder falar contigo sobre a jornada em direção ao Divino, nem sempre ascendente, mas repleta de altos e baixos. Repartiríamos assim entusiasmos e tristezas. Trançaríamos nossa amizade espiritual parecida com a corda de muitos fios.
Quisera dar-te, amigo, os instantes magros em que contabilizei fracassos, derrotas, perdas – instantes que forjaram em mim o dever de perseverar. Na derrota aprendi que muitos de meus ideais não nasciam da esperança. Eu estava engolido por um quixotismo bobo. Achava que alcançaria qualquer projeto faraônico. Aprender a caminhar pelos vales, cabisbaixo e sem arrogância, nunca é fracasso.
Quando me achava onipotente fui simplório. Ingênuo, tapei buracos enormes para não ter que lidar com a des-ilusão. Mal sabia que é melhor a dura realidade do que viver escondido sob a mentira da ilusão. Para preservar instituições falidas, relevei decepções. Eu havia me convencido de que horrores éticos, que me afrontavam, não passavam de mal-entendidos. Saí da alucinação de minha prepotência para salvar a alma. Presentear-te com os meus desapontamentos seria um jeito de te pedir: não desista; não vire o tablado do jogo. A vida é assim mesmo, dura. Nem todas pessoas são confiáveis – inclusive nós mesmos. Mas vale a pena continuar. Está escrito: “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso”.
Quisera dar-te, amigo, meu ouvido discreto, meu olhar atento, meu abraço silencioso. Partiste sem me dar a chance de te acolher. Eu faria tudo para te salvar da loucura de sair da vida antes do tempo. Para evitar a tua tragédia, fico com o ímpeto, se possível, de me colocar na trajetória da bala, na frente do trem, no olho do furacão, no meio do terremoto. Para te poupar, estaria disposto a ser antídoto, escudo, parapeito, boia, escada, paraquedas. Para te ajudar, faria qualquer coisa: massagem cardíaca, respiração boca a boca, transfusão de sangue.
Por que não me consideraste teu psicanalista, confessor, saco de pancada? Eu não te condenaria. Não te cobraria. Não te rejeitaria. Só pediria: não jogue a toalha.
Amigo, saber que segaste a vida por conta própria foi um duro golpe. Acordei desolado. O mundo ficou árido. Agora vejo que não te conhecia bem.
Carregarei a sensação de que poderia ter sido um amigo mais achegado que irmão. Não fui. Todos perdemos. Mas ao contrário de ti, não desistirei. Sei que ainda posso ser amigo de outro.
(Faz pouco tempo. Ainda dói)
 Soli Deo Gloria

MOVIMENTO DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS/Brasil INFORMA:

Att,

Jair Krischke - Presidente
Movimento de Justiça e Direitos Humanos

PORTAL MONTEVIDEO

ESPÍA DE LA DICTADURA BRASILEÑA ES PASTOR EN MONTEVIDEO
Dios nos libre
17.12.2012 09:19
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Alberto Conrado Avegno, un brasileño de 85 años, trabajó durante 14 años como espía de la dictadura brasileña en Uruguay, transmitiendo cientos de informes sobre sus compatriotas en nuestro país. Actualmente es pastor de una iglesia evangélica.
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Alberto Conrado Avegno y su mujer, Teresa. Foto: Lula Marques/Folhapress
Durante su labor de espionaje, el infiltrado fue una especie de órgano de información unipersonal al servicio de la cancillería brasileña. De 1967 a 1980, Alberto Conrado Avegno tuvo intensa actividad secreta, elaboraba informes con nombres, direcciones planos, dando curso a nada menos que 361 informes de la dictadura sólo entre 1974 y 1975. Durante su período de servicio hizo viajes internacionales, siendo detenido una vez en nuestro país y otra en Brasil, siendo liberado de inmediato al comprobarse que se trataba de un infiltrado.
Días atrás, periodistas del periódico paulista Folha localizaron a Avegno, quien actualmente tiene 85 años y se desempeña como pastor en la iglesia evangélica Centro El Shadday. En reportaje con el mencionado diario, Avegno contó su historia.
Identificado en los informes bajo diferentes seudónimos - "Altair", "Johnson", "Mário", "Carlos Silveira" y hasta "Zuleica", Avegno fue " el único hombre infiltrado en el medio subversivo y pieza fundamental del esquema de seguridad de Brasil en Uruguay", según lo calificó el ex comisario brasileño Rui Dorado, jerarca de los servicios secretos durante el gobierno dictatorial.
En junio pasado, cuando el Archivo Nacional de Brasil abrió el acceso a miles de páginas de información clasificada, salió a la superficie un voluminoso expediente - más de 800 páginas- acerca de este este personaje, nacido en el edificio del consulado brasileño en Salto en 1927, hijo de un diplomático brasileño en aquel entonces en funciones en nuestro país.
En su juventud, Avegno trabajó como periodista en varias revistas brasileñas. En 1964, y a raíz de un escándalo vinculado a un presunto chantaje por su parte, regresó a Uruguay, donde su padre, ya jubilado, había establecido su residencia.
Los primeros documentos sobre este singular espía datan de la segunda mitad de los años 60. Hasta 1973, cuando sobrevino el golpe de Estado en nuestro país, llegaron a estos lares decenas de militantes brasileños perseguidos por su gobierno, incluido el depuesto presidente Joao Goulart, que vivió en estancias del interior del país desde 1964. Conrado se aproximó a estos refugiados valiéndose de su doble nacionalidad y el prestigio de su familia de diplomáticos.
Tan eficaz fue su engaño que en 1968, un reportaje de la revista "Veja" lo mencionó como una persona afín a los exiliados izquierdistas. "Es acusado de servir de paloma mensajera, habiendo cruzado 27 veces la frontera", decía el informe.
Si bien los refugiados políticos en Uruguay no eran más de 200, desde Brasilia se veía con preocupación la posibilidad de que montaran un grupo guerrillero que cruzara la frontera y actuara en Brasil.
Durante su reportaje con Folha, Avegno confirmó haber estado "varias veces en la hacienda de Jango en Maldonado", donde residía Goulart, sobre el que elaboró un completo informe que luego remitió al CIEX (Centro de Informaciones del Exterior).
Conrado y los hombres del CIEX se encontraban en cines de Montevideo, y sostenían conversaciones de no más de quince minutos. Los archivos conservan documentos de 38 de estos encuentros, con hora, lugar y resultado. El espía llevaba informes, cartas y documentos, y recibía dinero a cambio.
En mayo de 1968, antes del inicio de la fase de represión más intensa por parte de la dictadura norteña, los servicios secretos se mostraban muy entusiasmados con la labor de su hombre en Montevideo. "Contaremos en el futuro con una excelente información positiva", se escribió sobre él en el organismo, asegurando que el espía cada día "se afirma más" en la izquierda.
Durante los años 70, el agente recibió unos 400 dólares mensuales por sus servicios, dato que puede confirmarse gracias al minucioso dossier "ex secreto", donde figuran los pagos realizados como si fuera un empleado corriente.
La documentación deja claro que Azeredo da Silveria, entonces canciller brasileño, estaba al tanto de las actividades de Avegno, e incluso elogia y considera correcta la elección.
Sin embargo, el ministro no quería que el tema fuese tratado en los telegramas diplomáticos enviados de Montevideo a Brasilia, dado que consideraba necesario borrar pistas. "Los telegramas deben ser anulados o sustituidos por otros más inofensivos, de preferencia ostensiblemente anodinos, sobre asuntos de menor importancia" ordenó.
Entre marzo y octubre de 1976, Avegno fue enviado a Europa en una de las misiones más arriesgadas de su carrera de espionaje. La misión le costó al gobierno brasileño más de siete mil dólares, pero parece haber sido "plata bien gastada", ya que a su regreso a Uruguay, el agente entregó un completo informe con los nombres de "76 subversivos" brasileños, localizados en Portugal, Italia y Francia. En la lista había gente poco conocida y nombres destacados, como el futuro presidente Fernando Henrique Cardoso.
No es fácil estimar el número de militantes que los informes de Avegno llevaron a la cárcel, la tortura o la muerte. Los servicios de inteligencia no acostumbran usar de inmediato las informaciones de infiltrados, procurando así preservarlos. Por ello, un nombre indicado por el espía podía quedar bajo discreta vigilancia durante meses. Sin embargo, varias de las personas indicadas por Avegno pasaron luego a engrosar la triste nómina de desaparecidos del Plan Cóndor.
Tras el fin de la dictadura, Conrado permaneció en nuestro país, y actualmente dirige un culto evangelista en Montevideo. Interrogado acerca del motivo de sus acciones. "Acepté porque acepté, y nada más", dice el ahora octogenario. "Siempre luché contra el comunismo, porque es una porquería. La derecha es buena, es gente de bien", asegura.

FOLHA DE SÃO PAULO – 16/12/2012

O araponga da ditadura

O araponga uruguaio


Exclusivo: espião da ditadura fala à Folha

RESUMO Folha localiza agente infiltrado pela ditadura militar entre exilados no Uruguai. Por 14 anos, araponga municiou órgão de informação do Itamaraty com relatórios, cartas interceptadas e investigações no exterior. Em entrevista exclusiva, disse que dossiê do Arquivo Nacional sobre ele é "parte mentira, parte verdade".

O PASTOR SAI DO TÁXI, no centro de Montevidéu, e caminha com vagar até a igreja evangélica Centro El Shadday, que comanda desde 1998. São 20h, mas ainda faz sol. Aos 85 anos, ele curva seu 1,90 m, com o braço esquerdo ligeiramente inerte, sequela de um princípio de derrame. É magro e tem uma ferida na cabeça, causada por uma queda na rua, em agosto.

É a primeira vez que o vemos. Na entrada, estende a mão e o olhar, que esquadrinha demoradamente o rosto do interlocutor. Na véspera havíamos combinado ouvi-lo para uma reportagem sobre exilados brasileiros no Uruguai nas décadas de 60 e 70. Ele quis falar conosco na igreja, na hora do culto, pondo fim a 40 anos de silêncio.

De 1967 a 1980, Alberto Conrado Avegno teve intensa atividade secreta, como infiltrado da ditadura militar (1964-85) entre os exilados brasileiros no Uruguai. Interceptava e copiava cartas, produzia relatórios com nomes, endereços e planos, dando subsídios a 361 informes da ditadura apenas entre 1974 e 75. Fez viagens internacionais para cumprir "missões" do governo brasileiro. Foi detido duas vezes, no Uruguai e no Brasil, e liberado ao revelar-se infiltrado.

Identificado nos relatórios sob diferentes codinomes -"Altair", "Johnson", "Mário", "Carlos Silveira" e até mesmo "Zuleica"-, ao longo de 14 anos ele se firmou como "único homem infiltrado no meio subversivo e peça fundamental do esquema de segurança do Brasil no Uruguai". As palavras são de um homem da ditadura, o delegado Rui Dourado, que ajudou o ex-embaixador Manoel Pio Corrêa a montar o Ciex (Centro de Informações do Exterior), máquina de espionagem do Itamaraty.

Em junho, quando o Arquivo Nacional, em cumprimento à Lei de Acesso à Informação, abriu o acesso a centenas de milhares de páginas sigilosas, permitindo que fossem pesquisadas por nomes -até então, isso só era possível com autorização da família-, a atuação de Conrado veio à tona num dossiê de 814 páginas. Foi então possível entender que todos aqueles codinomes apontavam para aquele uruguaio nascido em 1927, filho do diplomata brasileiro Octávio Conrado, já morto.

Nem sempre, porém, a marca de Conrado foi a discrição que pautou sua atuação no Uruguai. Ele foi parar em Montevidéu após uma barulhenta confusão no Rio de Janeiro. Em agosto de 1960, o cineasta Elzevir Pereira da Silva matou-se a tiros. A viúva denunciou à polícia que ele estaria sendo chantageado pelas revistas "Escândalo" e "Confidencial", nas quais Conrado trabalhava como repórter e diretor.

Abriu-se um inquérito que fez a revelação: outros artistas, como o cantor Nelson Gonçalves (1919-98), haviam sido alvo de pressões semelhantes -ou pagavam, ou teriam seus nomes jogados na lama. De quebra, descobriu-se ainda que Conrado e outros três jornalistas tinham empregos no governo federal (logo foram demitidos).

Conrado não foi condenado: guarda até hoje a cópia da sentença da Justiça do Rio que determinou o arquivamento do inquérito. Mas não voltaria a morar no Brasil. Em 1964 juntou-se à família, que já vivia em Montevidéu, aonde seu pai escolhera ir ao se aposentar.

PASSADO Conrado nos examina com seus olhos azuis e estrábicos. Convidou-nos para uma conversa ao lado de Teresa, sua terceira mulher, que ele conheceu nos anos 90. Ela admite pouco saber sobre a vida pregressa do marido: "Ele não conta. Quando você [repórter] ligou ontem, ele ficou muito nervoso. Ele não quer falar do passado".

Não foi exatamente o que se verificou na primeira sessão de entrevista, de quase duas horas. Ouvindo com dificuldade, muitas vezes misturando português e espanhol, demonstrou interesse pelos documentos enfim liberados no Brasil, mas disse ter esquecido certas coisas. Volta e meia fitou o ar em silêncio por longos segundos, como se procurasse na memória uma informação que não vinha.

O que permanece intacto é o clima maniqueísta da Guerra Fria: "Eu ‘luchava’ intensamente contra o comunismo. ‘Siempre’. Sempre", disse ele à Folha. E por quê? "O comunismo é uma ‘porquería’. A direita é boa. É gente de bem".

Mas tinha amigos nos dois lados. Como fazia? "Eu me ‘adapté’, me adaptava. É simples".

Sua família tinha muitos contatos na alta sociedade do Uruguai, onde seu avô servira como embaixador do Brasil. Aos parentes: apresentava-se como jornalista de rádio. Sua irmã, Stella, nascida no Rio e criada no Uruguai desde os anos 1950, afirma ter tentado conhecer a verdade.

"Depois que morreram meus pais, eu perguntei, mas perguntei com veemência: ‘Mas o que é que você faz?’. ‘Ah, não posso dizer, não posso dizer’", contou Stella, em seu apartamento no bairro de Pocitos. "Foi o que ele me falou."

Os primeiros documentos sigilosos sobre o araponga datam da segunda metade dos anos 60. Até 1973, quando sobreveio a ditadura militar uruguaia, foram parar em Montevidéu dezenas de militantes e perseguidos no Brasil, incluindo o presidente deposto, João Goulart, que viveu em fazendas no interior do país a partir de 1964, o ex-governador do RS Leonel Brizola, o ex-ministro Darcy Ribeiro, o almirante Cândido Aragão e os coronéis cassados Emanuel Nicoll e Jefferson Cardim Osório.

Conrado se aproximou de todos eles valendo-se de sua dupla nacionalidade -nasceu no prédio do consulado do Brasil em Salto- e do prestígio de sua família de diplomatas. Em 1968, reportagem da revista "Veja" fez uma rápida referência a ele, descrevendo-o como alguém que prestava serviços aos esquerdistas brasileiros: "É acusado de servir de pombo-correio, com 27 passagens pela fronteira".

Na entrevista à Folha, ele confirmou que esteve "várias vezes" na fazenda de Jango em Maldonado (a 128 km de Montevidéu). O "dossiê" do espião no Arquivo Nacional registra que ele entregou ao Ciex, em 1974, um "informe sobre João Goulart", cujo conteúdo não foi transcrito. Em relatório de 1971, o agente descreve conversas com José Gomes Talarico, um dos fundadores do PTB e importante aliado de Brizola e de Goulart.

O agente se aproveitou de um descuido, no hotel Alhambra, e conseguiu ler os papéis, mas não fotografá-los. Reportou à ditadura que Talarico "trazia consigo um excelente relatório do PCB [Partido Comunista Brasileiro]" e "um informe sobre o estado das organizações de ação direta no Brasil".

Em agosto de 1967, já se apresentava como secretário do almirante Aragão. O ex-marinheiro Guido Gurgel, 78, que se exilou por 12 anos no Uruguai, sempre o via quando ia visitar o almirante. "Sei que ele era muito amigo do Aragão", disse. "Havia comentários, sim, suspeitas de que Alberto era, digamos, uma ‘persona non grata’. Mas nunca tivemos provas. Averiguar essas coisas cabia aos oficiais [exilados] mais graduados. Os marinheiros eram arraia-miúda."

Os brasileiros exilados no Uruguai não eram mais de 200 na segunda metade dos anos 60, conforme estimativas da época, mas eram fonte de preocupação para a ditadura. Brizola tinha planos de criar focos guerrilheiros no Brasil e para isso costumava se reunir em Montevidéu com aliados -em sua maioria, militares cassados, portanto treinados em técnicas de combate- para elaborar colunas revolucionárias. Anunciava que iria receber recursos de Cuba para desfechar o "contra-ataque".

CIEX Conrado e os homens do Ciex encontravam-se em cinemas e ruas de Montevidéu, em conversas de no máximo 15 minutos. Há 38 encontros documentados, com hora, local e resultados. O agente levava relatórios, cartas e documentos. Em troca, recebia o dinheiro.

Em maio de 68, antes da fase mais repressiva da ditadura, o Ciex já se entusiasmava com o investimento em Conrado: "Contaremos no futuro com uma excelente infiltração positiva", diz um relatório. O agente informou que, a cada dia, "mais se afirmava" na esquerda.

Conrado recebia em média US$ 400 mensais ao longo da década de 70. No dossiê, há inúmeras cobranças do araponga por aumentos ou pagamento de atrasados.

Documento do Ciex que consta do "dossiê Conrado" mostra que o chanceler Azeredo da Silveira (1917-90) sabia das ações do agente. "O ministro de Estado tomou conhecimento do assunto, aprova e elogia a decisão correta de utilizar o canal do Ciex para o trato do mesmo, mas lembra a ‘Queiroz’ que tal canal tem regras próprias."

O ministro não queria que o tema fosse tratado nos telegramas diplomáticos enviados de Montevidéu para Brasília. Era preciso apagar as pistas. A orientação de Brasília foi a seguinte: "Os telegramas devem ser ou simplesmente anulados ou substituídos por outros mais inofensivos, de preferência ostensivos, anódinos, sobre assuntos de menor importância". Poucas vezes ficou demonstrada de forma tão clara a atuação do alto escalão para adulterar a história documental do Itamaraty.

Em seu livro "O Mundo em Que Vivi" (Expressão e Cultura, 1995), o ex-embaixador Manoel Pio Corrêa, capitão da reserva do Exército, contou a origem do Ciex sem lhe dar esse nome. Ainda em 1960, ele se tornou vice-presidente da Junta Coordenadora de Informações, criada pelo governo para reunir os diversos órgãos de espionagem.

Em reunião com chefes de órgãos de inteligência, na presença do futuro presidente Ernesto Geisel, Corrêa anunciou que ia "organizar" seu "próprio núcleo de ‘pronta intervenção’".

Para essa tarefa, pediu à Polícia Civil do Rio a cessão do delegado Rui Lisboa Dourado, seu ex-colega no Exército. "Rui era um policial destemido -e temido", escreveu Corrêa. Dourado foi enviado para o Uruguai. O nome dele e o de Corrêa são citados no dossiê sobre Conrado como pessoas que conheciam o trabalho do agente duplo.

Aos 94, o ex-embaixador vive no Rio, mas sua família informou que ele, acamado, não teria condições físicas de comentar os documentos. Dos quatro embaixadores que serviram em Montevidéu no período de ação de Conrado, dois já morreram e dois não foram localizados. Outros diplomatas que teriam tido contato com Conrado também já morreram. Um dos poucos ainda vivos é o embaixador André Guimarães, que serviu em Montevidéu na Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc, hoje Aladi) entre 1967-71. Ele diz que se "lembrava vagamente de Conrado" e o teria visto na embaixada. "Após 40 anos, a memória começa a desaparecer."

PORTUGAL Duas das mais ousadas ações de Conrado foram viagens ao Brasil e a Portugal. A "Missão Portugal" ou "Neuzona" custou US$ 7,62 mil, divididos entre Itamaraty e o Cenimar (Centro de Informações da Marinha). De acordo com os preparativos da operação, "totalmente planejada e integralmente conduzida pelo Cenimar", Conrado passaria de quatro a seis meses em Lisboa, para "levantar em Portugal as atividades subversivas em execução ou a serem executadas no Brasil, a fim de prover dados e informes".

Dois homens da ditadura, "Paulo", baseado em Londres, e "Antonio", no Brasil, manteriam contatos esporádicos com ele. Para encontros "tête à tête", Conrado deveria ligar e indicar um local. Ao se aproximar dos agentes, ele devia perguntar sobre "a loja da Varig" e mostrar um pedaço de uma nota de um cruzeiro. Segundo os documentos, Conrado esteve em Portugal entre março e outubro de 1976, mantendo estreito contato com o almirante Aragão.

Em dezembro, já de volta a Montevidéu, entregou ao Ciex um relatório de dez páginas com os nomes de 76 "subversivos detectados" em Portugal, Itália e França ou "em trânsito" por Portugal. Havia desde anônimos a gente conhecida, como o ex-deputado Márcio Moreira Alves e o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso.

Não é fácil estimar o número de militantes que os informes de Conrado levaram à prisão, à tortura ou à morte. Os serviços de inteligência não costumam usar de imediato informações de infiltrados para preservá-los. Assim, um nome indicado por Conrado poderia ser monitorado por meses a fio até sofrer o bote final.

PEGADAS Em pelo menos um caso as pegadas de Conrado ficaram perigosamente evidentes. O ex-coronel Jefferson Cardim foi preso em dezembro de 1970 ao desembarcar em Buenos Aires, vindo de Montevidéu, onde havia se reunido com Conrado. "Em poder de Jefferson encontrou-se profusa e abundante documentação", festejou o Ciex. Já o agente "mostrou-se muito assustado" e disse não ter "mais condições de ‘trabalhar’". A prisão ocorrera muito perto do encontro, deixando-o vulnerável. Ainda por cima, Cardim carregava uma carta com o nome "Alberto".

A esquerda jamais conseguiu ligar os pontos. As primeiras suspeitas levantadas sobre ele vieram com perguntas feitas por torturadores brasileiros a presos que haviam morado no Uruguai, nas quais havia detalhes demais.

Gualter de Castro Mello, militante da MNRN (Movimento de Resistência Militar Nacionalista), criado pelo almirante Aragão, regressou a Montevidéu em 1968 certo de que havia "pelo menos três infiltrados" entre seus parceiros. Suas suspeitas acabaram chegando aos ouvidos de Conrado e aos do Ciex, que produziu um documento classificado como "ultrassecreto", a mais alta forma de sigilo. "É indispensável dar aos interrogatórios de asilados detidos no Brasil forma mais adequada às peculiaridades do trabalho de informações", dizia o documento, que apontava "sérias ameaças à segurança operacional de agentes infiltrados no meio dos mesmos."

Uma dessas sérias ameaças veio em dezembro de 1972, quando Conrado foi detido pela Polícia Federal, durante uma viagem a Santana do Livramento (RS). Acuado, ele viu-se obrigado a revelar sua verdadeira atividade. Indagado sobre quais pessoas conhecia "dos serviços de informação", citou três, entre os quais Cecil Borer (1913-2003), o temido ex-diretor do Dops da Guanabara. Foi liberado após ser reconhecido por um oficial ligado à inteligência da Marinha.

Três anos depois, o agente infiltrado foi novamente detido, dessa vez pela repressão no Uruguai. O país já vivia sob a ditadura civil-militar (1973-85) do presidente Juan Maria Bordaberry (1928-2011). Segundo os documentos, em 1975 a casa de Conrado foi cercada por um aparato militar. Ele disparou telefonemas para a Embaixada brasileira, pedindo proteção, mas teve que se entregar, pois corria o risco de ser torturado ou morto. No interrogatório, assumir trabalhar para o Cenimar.

Esses eventos levaram Conrado a tomar uma atitude extraordinária. Numa rara carta assinada com seu nome verdadeiro, ele escreveu ao então embaixador brasileiro, de nome não identificado no papel. "Nestas especiais circunstâncias, sou obrigado a declinar para Vossa Excelência a minha qualidade de integrante do Serviço de Informações e Segurança do Itamaraty. Devido a essas atividades em pró [sic] de nosso Brasil, as autoridades de Inteligência do Uruguai se lançaram em minha procura, pois não sabem minha real qualidade, pensando evidentemente tratar-se de uma coisa de subversão."

O interrogador de Conrado na polícia uruguaia, Víctor Castiglioni, morto em 2000, foi um homem forte da repressão no Uruguai. Diretor de inteligência da DNII, um braço da polícia nacional, ele e Conrado realizaram nos dias seguintes reuniões com membros do temível Side (Serviço de Informações de Defesa) do Uruguai, uma espécie de DOI-Codi local. Os uruguaios também queriam Conrado como seu informante. A aproximação incomodou o Ciex.

Não foi a primeira vez. Em mensagem enviada ao órgão do Itamaraty, Conrado contou que vinha sendo assediado por americanos, uruguaios e brasileiros do CIE. Todos queriam os seus serviços. Havia indícios de que ele passara a receber recursos de várias fontes. Em 75, o Ciex desabafou: "Como agente, é (desculpe a imagem) uma verdadeira ‘vaca’ em cujas tetas mamam (sabemos nós) pelo menos o Cenimar e o SID [Side] e (suspeitamos) o serviço alemão".

Em 1980, já no ocaso da ditadura, Conrado apontou para o Ciex o nome de 12 oficiais da repressão uruguaia com os quais mantinha "contatos frequentes". A Folha leu esses nomes para o pesquisador Mauro Tomasini, do Serpaj (Serviço de Paz e Justiça) do Uruguai, semelhante ao projeto Brasil Nunca Mais, que recolheu testemunhos sobre abusos da ditadura. "Esses são todos militares do primeiro plano da repressão no Uruguai. Todos estão basicamente vinculados a violação de direitos humanos. Todos", respondeu Tomasini.

Um está preso; outro foi acusado do sequestro do bebê de uma militante; Castiglioni, por sua vez, é associado a um esquadrão da morte paraestatal e clandestino.

Em 86, finda a ditadura, o Uruguai aprovou o que ficou conhecida como Lei de Caducidade, o equivalente à Lei da Anistia no Brasil. Cresceu, contudo, o coro dos que defendiam a investigação de cerca de 160 mortes e 200 desaparecimentos. No governo de Tabaré Vasquez (2005-10), as investigações se intensificaram. Hoje há 13 militares na prisão de Montevidéu, à espera de julgamento ou já condenados por crimes contra os direitos humanos na ditadura.

Quem não se esquece de Conrado são os exilados que com ele conviveram. No final dos anos 60, ele se aproximou da família do ex-coronel Nicoll, que integrava o grupo do almirante Aragão e sonhava em criar no Brasil um grupo armado para derrotar a ditadura.

"O Conrado vivia na minha casa, muito. Era tido assim como um tipão, um galã. Mas ele apareceu assim do nada, e era muito questionado", relembra Lena Nicoll, que conheceu Conrado aos 15 anos. "Esse comentário rolava, sim, de ele ser suspeito por alguns exilados de ser uma pessoa infiltrada no nosso meio." Ao saber do conteúdo dos documentos, Lena concluiu que seu pai foi enganado.

Alberto Conrado e Teresa aceitaram uma segunda conversa. No apartamento do casal, no centro de Montevidéu e a poucos metros da praia, ele estava ansioso para conhecer os documentos. Colocou os óculos e os leu num notebook.

A respeito de um papel que o indicava como "agente da comunidade setorial de informações da Marinha", Conrado disse: "Está correto, está correto". E por que fazia esse trabalho? "Porque aceitei. Aceitei porque aceitei. Nada mais." E o que dizer dos contatos com Castiglioni e outros oficiais da repressão? "Sim, eu conheci Castiglioni. Foi chefe de segurança do [ex-presidente uruguaio] Pacheco Areco. Falávamos sobre várias coisas, nada específico."

Durante a entrevista, Teresa se disse surpresa com as declarações do marido, a quem conheceu muitos anos depois do fim da ditadura, em 1998. Conrado então passou a voltar atrás e disse que não, não trabalhou para serviços de informação brasileiros. Não recebeu dólares pelo seu trabalho, não foi detido pelas polícias do Uruguai e do Brasil e não manteve encontros em cinemas de Montevidéu com gente da Embaixada brasileira.

Conrado afirmou que os documentos expressam "parte verdade, parte mentira", sem contudo apontar uma e outra. Contraditoriamente, voltou a dizer que combateu o comunismo "intensamente". Disse que chegou a escrever um livro, com cerca de cem páginas, no qual contou "tudo" sobre sua vida. Mas o escrito, intitulado "Conhecendo o Inimigo", encontra-se perdido. Indagado sobre quem seria o seu "inimigo", Conrado respondeu: "Satanás".

Acompanhando os repórteres até a saída, ele se despediu com um tapinha nas costas, e repetiu: "Parte é verdade, parte é mentira".

Em um relatório de 1976 o Ciex traçou um perfil psicológico de Conrado, identificado pelo codinome "Altair". Há 36 anos, os diplomatas do Itamaraty escreveram:

"O comportamento profissional de Altair reflete em grande parte as peculiaridades de seu perfil psicológico, marcado por uma ambiguidade característica que desorienta as pessoas que com ele são forçadas a relacionar-se direta ou indiretamente. Aliás, essa duplicidade se estende a quase todos os aspectos dominantes de sua vida, que apresenta às vezes uma natureza contraditória: Altair mantém relações de amizade com elementos reconhecidamente perigosos de esquerda e, no entanto, sente a necessidade de justificar sua atitude para que o se ligou aos Serviços de Informações. Essa ambiguidade é uma forma de permitir-lhe fazer o que deseja, sem os percalços inerentes às atividades e às ligações que porventura tenha".

"Eu ‘luchava’ intensamente contra o comunismo. ‘Siempre’. Sempre", disse ele àFolha. E por quê? "O comunismo é uma ‘porquería’. A direita é boa. É gente de bem"

Conrado recebia em média US$ 400 mensais ao longo da década de 70. No dossiê, há inúmeras cobranças do araponga por aumentos ou pagamento de atrasados

"Esse comentário rolava, sim, de ele ser suspeito por alguns exilados de ser uma pessoa infiltrada no nosso meio", diz Lena, filha do coronel exilado Emanuel Nicoll.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Posted: 09 Dec 2012 12:50 PM PST

Na manhã deste sábado (08), no Memorial da Resistência, em São Paulo, a Caravana da Anistia julgou e concedeu anistia política ao padre José Eduardo Augusti, que foi considerado vítima da repressão política ocorrida no país durante a ditadura militar. O sacerdote foi declarado anistiado político por unanimidade.

Padre Augusti exercia suas atividades pastorais como defensor dos direitos humanos em Botucatu (SP). Em julho de 1968, foi preso acusado de ter participado de um comício estudantil em São Paulo (SP). Em agosto daquele mesmo ano, foi libertado por meio de um habeas corpus. Foi indiciado pela Lei de Segurança Nacional e, em junho de 1969, condenado a um ano de prisão.
Em outubro daquele ano, o padre Augusti foi preso e permaneceu no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde relatou ter sido torturado. Em 1970, foi transferido para o Presídio Tiradentes e, em outubro do mesmo ano, foi posto em liberdade. O padre Augusti morreu em 1997.
“Esse é um ato de reparação do governo dos atos de arbítrio que foram feitos em relação ao padre Augusti e muitos outros. Ele sempre foi um sacerdote que se pautava pela denúncia das questões sociais e que confrontou os poderosos na época em Botucatu”, disse a irmã do padre, Maria Tereza Augusti.
Em entrevista à Agência Brasil, logo após o julgamento, Maria Tereza contou que seu irmão foi “muito torturado” e quase ficou cego em um dos episódios de prisão. “Ele ficou 20 dias [sumido] e não sabíamos onde ele estava. E estava sendo torturado. Ele quase perdeu a vista e precisou ser operado, pois recebeu 50 horas de luzes no rosto”, falou.

Segundo Maria Tereza, a família não pediu indenização ao Estado, “somente a reparação [reconhecimento] do governo brasileiro da injustiça cometida”. Para ela, o atendimento da Caravana da Anistia representa “o reconhecimento de que se tem uma história construída, que a juventude não sabe, e que pode não se repetir”.  
As Caravanas da Anistia são promovidas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e existem desde 2008. Elas consistem na realização de sessões públicas de apreciação de requerimentos de anistia política, com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a memória política brasileira, principalmente do período relativo à ditadura militar.
À tarde, a Caravana da Anistia julga o pedido de anistia política de oito militantes da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Serão apreciados os pedidos de anistia política referentes a Jorge Luiz dos Santos Oliveira, Iria Molina Farinazzo, Salvador Pires, Maria Arleide Alves, Antonio Fernandes Neto, João Prado de Andrade, Luiz Carlos Prates (conhecido como Mancha, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos-SP) e Alexandre Giardini Fusco. Caso o julgamento seja favorável, os operários deverão receber anistia política e reparação econômica pela perseguição sofrida.
Raimundo Perillat, coordenador da Casa da Solidariedade do Ipiranga e ex-metalúrgico, esteve hoje no Memorial da Resistência para acompanhar o julgamento. Durante a ditadura, contou, ele chegou a ser preso. “Naquela época, eu trabalhava em São Caetano. Teve a ocupação no sindicato e toda a liderança chegou aqui no Dops, em 1979”, contou.
“Estas são pessoas que, mesmo nos momentos mais difíceis, foram corajosas ao se colocar ao lado da defesa dos direitos e das liberdades. Mas pagaram um preço por isso. E são a elas que devemos a liberdade que hoje usufruímos. Então, o Estado tem o dever e a obrigação de olhar para cada uma delas e oficialmente pedir desculpas por esses erros e, por esse gesto, reconhecer o legítimo de resistência que elas tiveram no passado”, disse Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia.

Segundo Abrão, no caso do Padre Augusti, a comissão reconheceu que ele “foi preso de forma arbitrária, sofreu torturas e lesões à sua integridade física, sofreu monitoramento ilegal da sua vida ao longo do tempo e foi cerceado no exercício de suas atividades religiosas e políticas”.
Com relação aos membros da Oposição Sindical, pedido que está sendo julgado à tarde, Abrão falou que eles participaram de mobilizações consideradas subversivas à época. “Além de terem sido presos em razão de suas manifestações, foram demitidos arbitrariamente de seus empregos, tiveram seus nomes colocados em listas-sujas - o que dificultou que encontrassem novos empregos - e, principalmente, tiveram seus direitos legítimos a um projeto de vida interrompidos”, disse Abrão.
O prédio onde se encontra instalado o Memorial da Resistência foi, entre 1940 e 1983, sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops), considerado setor de uma das polícias políticas mais truculentas do país na época da ditadura militar. No local, militantes políticos eram presos e torturados.
“Todas as caravanas são importantes, mas imagine fazer uma aqui nesse prédio. Tantas pessoas tiveram suas vidas interrompidas, foram presas e torturadas e os responsáveis não foram punidas. Então, esses atos são pequenas reparações”, disse o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão Estadual da Verdade.
(Agência Brasil)

Link da LISTA DE TORTURADORES:


 http://www.documentosrevelados.com.br/nome-dos-torturadores-e-dos-militares-que-aprenderam-a-torturar-na-escola-das-americas/lista-dos-torturadores/

Nos 44 anos do AI-5, militar é escrachado no Rio

O tenente-coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel foi escrachado por militantes da Articulação Memória, Verdade e Justiça do Rio; Lício participou do combate à Guerrilha do Araguaia e é responsável, direta e indiretamente, pelo assassinato e desaparecimento de cerca de 60 militantes

Vivian Virissimo
do Rio de Janeiro

Batucada, panfletagem e discursos emocionados romperam com o ambiente pacato e tranquilo do Leblon nesta quinta-feira, 13 de dezembro, data em que se completam 44 anos da publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5). É neste bairro nobre que reside o tenente-coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel que foi escrachado por militantes da Articulação Memória, Verdade e Justiça do Rio. Lício participou do contingente das Forças Armadas que combateu a Guerrilha do Araguaia e é responsável, direta e indiretamente, pelo assassinato e desaparecimento de cerca de 60 militantes.
 
Ato foi em frente a prédio do Leblon, onde mora o tenente-coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel - Fotos: Aline Braga 

A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Victoria Grabois, fez discurso contundente ao escrachar o militar responsável pela morte de seu irmão André Grabois e, indiretamente, pela morte de seu pai Maurício Grabois e de seu primeiro marido. “Ele precisa ir para o banco dos réus, precisamos não só de uma Comissão da Verdade, mas de uma Comissão da justiça. Os moradores da Rua Visconde de Albuquerque precisam saber que no seu prédio mora um torturador que assassinou dezenas de pessoas”, defendeu.
O coronel Lício Maciel, também conhecido como Dr. Asdrúbal, ganhou destaque após publicação do livro “O coronel rompe o silêncio”, de Luiz Maklouf Carvalho, no qual confessa a execução de 16 pessoas. Em 2012, tornou-se réu em um processo encaminhado pelo Ministério Público Federal de Marabá, pelo sequestro e desaparecimento do militante do PCdoB, Divino Ferreira de Souza.
“A articulação vem a púbico gritar em alto e bom som que nós não esqueceremos das barbaridades que você, Lício, e seus colegas repressores cometeram, sob o manto do AI-5. Denunciaremos aquelas atrocidades para que seus vizinhos e a sociedade brasileira saibam o que vocês fizeram”, destacou Dieymes Pechincha, do Levante Popular da Juventude.
Outra integrante da articulação, Ana Miranda do Coletivo RJ, ressaltou a importância do ato público e também pediu justiça. “Outros países da América Latina têm militares julgados e presos, no entanto, aqui no Brasil finge-se que nada aconteceu. É como se o tenente-coronel Lício dissesse na cara de todos: eu matei, torturei, decepei cabeças, ocultei cadáveres e até hoje vivo muito bem com meu salário e quero morrer anônimo, sem nunca ser julgado”, criticou.
A data foi escolhida para não deixar passar em branco os 44 anos do ato que aprofundou a repressão durante a ditadura civil-militar brasileira. “O Congresso foi fechado, intelectuais e artistas foram banidos, a censura recrudesceu, ampliou-se a perseguição às organizações populares e dos trabalhadores, salários foram achatados, liberdades foram ainda mais pisoteadas pelos coturnos da repressão”, detalhou Vitor Ferreira, da Consulta Popular.
Enquanto os militantes gritavam palavras de ordem, do alto de suas janelas os vizinhos acompanhavam a denúncia contra Lício. Pedestres e usuários do transporte público receberam panfletos e se interessavam pelo ato. O porteiro João apoiou a manifestação e classificou como uma “vergonha” o período militar. “Com estas mortes e torturas, os militares mancharam a história brasileira. Se formos procurar direitinho, temos vários militares nesta mesma situação aqui no bairro”, falou.
No final uma mística homenageou os militantes que tombaram sob responsabilidade do coronel. Uma faixa com o nome de todas as pessoas que morreram ou desapareceram durante a Guerrilha do Araguaia foi pendurada nas grades do prédio. Alem disso, uma faixa com os dizeres “Torturador encontrado” e fotos de Lício foram afixadas para amplo reconhecimento da vizinhança.

Documentos achados em fazenda revelam faces da ditadura

Material chega ao público em livro e documentário do projeto Memórias da Resistência
Por Aray Nabuco
Caros Amigos
3-iUma casa abandonada em uma fazenda em Jaborandi (SP), região de Ribeirão Preto, que era tida como mal assombrada pelos cortadores de cana, acabou por revelar de fato muitos fantasmas do passado. Cinco anos depois da descoberta por um cortador de cana e estudante de história de documentos da ditadura militar, o material vai ganhando identidades e recompondo a história no projeto Memórias da Resistência que, depois de colocar na internet um site, chega também às livrarias e, até o início do ano que vem, um documentário. O projeto é empreendido por um grupo de pesquisadores do Instituto Práxis de Educação e Cultura (IPRA), de Franca, através de edital Ponto de Mídias Livres, do Ministério da Cultura.
A fazenda pertencia ao ex-delegado Tácito Pinheiro Machado, citado pelo Brasil Nunca Mais como repressor, e que além de atuar em delegacias no interior paulista, dirigiu o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e foi chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública. Machado morreu em 2005, aos 79 anos, e apesar de seu pedido para queimar as fichas de perseguidos políticos, envelopes de correspondências restritas, bilhetes e anotações e até um manual de ação contra 'subversivos', o material ficou largado na casa. Em parte foi realmente dado um fim - os envelopes estavam vazios, seu conteúdo já havia sido eliminado.
Descoberta
Foi uma associação de elementos essa descoberta, diz o historiador Tito Flávio Bellini, que junto com o grupo de pesquisadores trabalhou no 2-imaterial, limpando, separando em categorias, analisando. A descoberta começou quando um grupo de cortadores de cana brincava que a casa era mal assombrada. Um deles, Cleiton Oliveira (camisa verde na foto nessa página), entrou e se deparou com a papelada esparramada nos cômodos abandonados. Cleiton cursava História na Faculdades Integradas de Bebedouro (Fafibe) e levou os papéis para um professor; teve o olhar crítico que outros provavelmente não teriam, ressalta Bellini.
A descoberta demonstra, sobretudo, que agentes da ditadura guardaram ou ainda guardam ou eliminaram documentos importantes dos Anos de Chumbo. A descoberta fez com que a Comissão Nacional da Verdade abrisse uma nova linha de investigação, solicitando documentos da época a todas as delegacias. Depois de tornar pública a história de Jaborandi, ao menos duas outras pessoas entregaram documentos que estavam guardados.
Livro e Documentário
Parte do material é reproduzido no livro de mesmo nome do projeto, que está sendo lançado e chega às livrarias até janeiro, segundo o historiador - já é possível adquiri-lo através da editora Expressão Popular, selo Outras Expressões, ou em contato direto com os pesquisadores, através do portal na internet, nowww.memoriasdaresistencia.org.br . Também para o início do ano planejam o lançamento do documentário, em fase de finalização.
Além de Bellini, o livro é organizado por Marco Antônio Escrivão e Pedro Russo, mas conta com textos de vários autores, coletivos políticos e pesquisadores - Frei Betto, o coletivo Aparecidos Políticos, o também coletivo Quem, Aretha Amorim Bellini, Caroline Grassi, Clayton Romano, Inez Stampa, Kátia Felipini, Leonardo Stockler, Maria Carolina Bissoto, Maurice Politi, Paulo Abrão, Rafaela Leuchtemberger, Thaís Barreto.
Tito Bellini conversou com Caros Amigos sobre a pesquisa e a importância do achado, cujos originais agora estão no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
CA - O que esses documentos revelaram, já que eram inéditos?
Tito Bellini - Há dois enfoques: o primeiro, a forma como eles foram descobertos, numa fazenda, área rural de Jaborandi, e que pertencia a um delegado do Dops, em São Paulo. Depois, fazendo pesquisas - a gente entregou a documentação ao Arquivo Público do Estado de São Paulo -, a gente percebeu que essa foi a primeira vez que se confirmou cabalmente a guarda indevida de documentos por agentes da repressão.
Capa-iCA - Isso mostra que ainda podem haver documentos nas mãos de aposentados, militares da reserva…?
TB - Sem dúvida. Depois que tornamos públicos esses documentos, o pessoal do Arquivo Público do Estado já conseguiu recuperar outros documentos. Teve uma viúva que entregou do marido, que morreu e era coronel; tem outro caso no Nordeste também.
Isso até abriu uma nova linha de investigação para a Comissão Nacional da Verdade.
Esse é um dos enfoques. O outro enfoque é especificamente sobre o material. Eu digitalizei 1.200 arquivos, mais ou menos, e temos 910 fichas (de investigados pela ditadura); no montande de fichas do Arquivo do Estado são poucas; eles têm mais de 20 mil e parece que agora foram incorporados mais de 40 mil prontuários daquele arquivo encontrado em Santos (fichas e prontuários de perseguidos, encontrados por acaso em março de 2010 e já abertos ao público).
Agora, as fichas de Jaborandi são únicas. Eles não tinham nenhuma, entre as 20 mil, desse modelo, que são da delegacia especializada da ordem política; as que eles tinham é da delegacia especializada da ordem social.
É uma ficha mesmo, de uns 15 por 10 centímetros de formato; na frente vem a tipificação, com nome, filiação, endereço, profissão, data de nascimento, algumas com fotos, poucas; e algumas informações sobre o fichado, se está já em algum processo e do que ele era acusado.
Tem três fichas de mortos e desaparecidos, inclusive, do Marcio Beck, que até hoje está desaparecido, sabe-se que ele morreu por relatos, mas não há confirmação oficial, nem localização do corpo; Lauriberto José Reyes, que morreu em confronto com a polícia, e Rui Carlos Vieira Berbet.
CA - Essas fichas eram de pessoas conhecidas em outras listagens de desaparecidos, como a do Brasil Nunca Mais?
TB - Ah, acho que já sim; essas pessoas constavam em outras fichas da delegacia de ordem social também. Mas não sei te dizer porque o pessoal que acompanha um pouco aqui é do fórum de ex-presos políticos; eles até solicitaram isso para facilitar na entrada de pedidos de indenização; teve algumas pessoas que entraram em contato por email, teve um militante que mora no Paraguai. Então, não sei se todos constam, mas acho que sim na do Brasil Nunca Mais; mas não posso dizer categoricamente.
CA - Esses documentos já estão com a Comissão da Verdade?
TB - Até onde a gente sabe, não. Essa documentação foi descoberta em 2007, ficou na guarda do nosso instituto, o Praxis, até 2009 uma parte, e uma outra parte ficou na faculdade em Bebedouro, a Fafibe. Então, só em 2009, através de um militante político é que deu prosseguimento e essa documentação foi encaminhada ao Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Então, os originais ficaram no Arquivo Público, que não está ainda disponível para consulta. E nesse período que ficou com a 1-igente, fizemos o trabalho de digitalização; no livro, a gente publica uma parte desses documentos; algumas fichas, um manual da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, chama "Subversão e Contra-Subervição", onde tem umas pérolas de marxismo e leninismo lá que é assustador o nível do maniqueísmo e do simples; atribui frase a Lênin que é de Maquiavel, por exemplo (risos).
CA - Sim, mas revela o trabalho ideológico da ditadura.
TB - Isso era declarado; nesse manual fica evidente. Eles se colocavam como democratas; o que os democratas deviam utilizar para impedir os comunistas, inclusive, de ascender ao poder até por via eleitoral.
CA - E eles sugeriam alguma ação específica?
TB - Tem as linhas de ação que eles destacaram, que era necessário dar uma resposta à tática subversiva comunista ou tática contra-revolucionária e realiza-se através das seguintes vias de ação: via eleitoral, a defesa da independência e equilíbrio entre os poderes, repressão a movimentos revolucionários de qualquer natureza.
E tem as estratégias: "Anular os antagonismos, promovendo estabilidade política; ativar a doutrinação democrática das massas; promover aglutinação das forças democráticas para a luta contra o PC; isolar o Partido Comunista das massas"
Aí vem "Para isso: considerar ilegais suas atividades e sua própria existência; agir com aparelho policial, buscando a descoberta e a neutralização dos elementos comunistas que atuam na clandestinidade e identificar e agastar os elementos comunistas dos aparelhos político e administrativo nacional".
CA - É importante ver esse arcabouço ideológico, que também legitimava as ações.
TB - Sim, e ali eles colocam abertamente "doutrinação" e o curioso é que eles colocam "doutrinação democrática", então, eles estavam fazendo tudo isso em nome da democracia.
CA - O delegado que era o dono da fazenda, vocês chegaram a procurá-lo ou a parentes?
TB - Ele morreu em 2005, dois anos antes da descoberta dos documentos. Um repórter da Isto É conseguiu localizar o filho do delegado, inclusive é delegado em São José do Rio Preto, parece. Ele colocou um depoimento do filho na reportagem falando que o pai dizia que os documentos da ditadura, algns tinham que ser incinerados, desaparecer porque comprometeriam algumas pessoas que ainda estavam na política no período recente.
CA - E podem estar vivos...
TB - Com certeza ainda estão vivos muitos deles. A gente tentou com uma filha, mas ficamos receosos de ir atrás do filho, com medo dele colocar algum obstáculo ao andamento do projeto, então, por isso a gente foi postergando, porque a gente está em trabalho de finalização da produção do documentário do projeto Memórias da Resistência.

"Entendemos subversão em um sentido mais amplo e mais atualizado, como um fenômeno psicossocial. Sociologicamente, sinônimo de revolução" - extraído do manual "Subversão e Contra-Subversão", achado no imóvel em Jaborandi

CA - Desse material inédito, você chegou a considerar algum mais importante ou algum que por um motivo te chamou a atenção?
TB - O material é muito amplo. Para você ter uma ideia, nós categorizamos em pastas a documentação, e temos mais ou menos 39 categorias de documentos. Temos desde documentos pessoais, registros de propriedades, compra e venda de imóveis; tem uma que eu acho interessante que são anotações e bilhetes do delegado; ele anotava alguns endereços, nomes de pessoas que parecem que eram ser do círculo de amizade dele, então aparece Erasmo Dias, por exemplo.
CA - O Fleury aparece?
TB - Não vi. Eu até pesquisei no Google alguns desses endereços, enfim. Para mim, a maior riqueza são três: esse manual; as fichas e por fim, envelopes. A gente encontrou em torno de 40 envelopes. Esses envelopes não tinham conteúdo e eram envelopes carimbados "secreto", "confidencial", "restrito". Dois, inclusive, foram lacrados com cera quente; um da Cúria Metropolitana de São Paulo e um, que o nome no envelope estava "Relatório Relação - Ministério das Comunicações"; tinham cinco pontos de lacre de cera.
CA - Qual a leitura que você faz disso?
TB - Acho que o que estava dentro foi retirado e talvez foi incinerado, porque não conseguimos fazer relação entre os documentos que a gente encontrou com esses envelopes. Esses envelopes eram de outro delegado, Alcides Cintra Bueno. Eu localizei pelo livro do Frei Betto e ele figuraria em uma delegacia especializada em cultos, uma coisa assim; ele aparece citado assim.
CA - Todo esse material se refere a ações da repressão na capital paulista ou também em cidades do interior e outros locais?
TB - Primeiro, acho que ele foi delegado em São José do Rio Preto, acho que era de Barretos, a esposa era descendente dos Junqueira lá de Ribeirão Preto, usineiros, bem poderosos, inclusive essa fazenda parece que era de propriedade dela, conversamos com moradores lá de Jaborandi; não pegamos a escritura do imóvel; íamos pedir isso no cartório, mas achamos que poderia levantar alguma suspeita e isso ir parar na mão de algum parente dele.
Agora as fichas, a gente agrupou em dois grandes grupos, dois grandes blocos. Uma parte dizia respeito a um processo de Ribeirão Preto, que é relacionado às Faln, Forças Armadas de Libertação Nacional, que era um grupo guerrilheiro, que foi estourado muito cedo, que era sediado em Ribeirão, mas tinha braço em São Joaquim da Barra, Franca, Orlândia, Barretos (cidades no entorno de Ribeirão Preto).
CA - Mas era uma organização daí…
TB - Sim, daqui, independente, sem ligação nenhuma com outra organização. Inclusive morreu há três

"Mudança que afeta de tal forma a estrutura social existente, que não somente a camada dominante é apeada do poder, mas todas as camadas se desintegram, para reintegrar-se de novo de forma diferente", definição de subversão de Emilio Willens, que consta no manual "A Subversão e a Contra-Subversão", achado em Jaborandi

semanas um de seus mentores, que era o Vanderley Caixe (advogado, morreu dia 13 de novembro, aos 68 anos), um militante de direitos humanos, foi preso, torturado, lutou também junto com as Ligas Camponesas.
Então esse é um bloco das fichas, o outro bloco é relativo à invasão do Crusp (moradia estudantil da USP, em São Paulo) pelo Exército, no final dos anos 60; inclusive esse foi o mote que a gente encontrou para o documentário. A gente priorizou esses grupos de fichados e pessoas envolvidas nesses eventos.
Esses são os dois grandes blocos; aí tinham outras fichas de pessoas mais dispersas, de outras regiões, tinha pessoas fichadas que estudavam na USP; a maior parte eram estudantes.
CA - Algum documento incrimina algum agente da ditadura diretamente?
TB - Não encontrei nada que incriminasse alguém mais diretamente. Não deu para verificar tudo, que é muito material.
Mas por exemplo, o Tácito foi corregedor da polícia também e lá na fazenda, a gente encontrou documentos da Corregedoria também. Eu colocaria isso como um quarto grupo de documentos, em grande quantidade e muito interessante, porque ele vai julgando ações de policiais dos mais diversos tipo. Uma, por exemplo, era de uma prostituta que foi espancada e eles colocaram no camburão e ela morreu em decorrência dos traumatismos. Nesse processo, ele condenou os policiais, mas tem vários de furto, de extorsão, torturas, espancamentos… Ele não usa o termo tortura, mas…
CA - O rapaz que encontrou esse material, o Cleiton, está no documentário. Mas fiquei curioso de saber o que deu a vida dele. Ele estava estudando história quando encontrou o material. O que ele faz hoje?
TB - Ele se formou recentemente, mas não está trabalhando na área. Ele é um dos membros do projeto, assim que saiu o projeto aprovado no edital Ponto de Mídias Livres, a gente convidou ele a integrar a equipe permanente.
CA - Como historiador?
TB - É, a gente colocou como assistente de pesquisa, então, ele fazia levantamento de contatos, dados, às vezes ele fazia pesquisa na internet, enfim. Mas atualmente, se não me engano, ele trabalha numa academia de musculação, em Monte Alto (vizinha a Ribeirão Preto).
A gente faz questão sempre de frisar que sem o Cleiton isso não existiria. Era alguém que estava no lugar certo e tinha informações mínimas por estar fazendo história, que levaram ele a resgatar esses documentos. Depois a gente fez mais duas buscas com ele na fazenda e encontramos mais alguns documentos.
Outros entraram lá, olharam aquilo e não deram importância alguma; ele deu porque estava fazendo história. Então, foi um conjunto de elementos. Uma das entrevistadas do documentário fala que não acredita que foi ao acaso, não (risos). Você vê que há tantas coincidências, um local hermo, afastado, ele entrou lá por uma brincadeira porque falaram que a casa era mal assombrada, outros já tinham entrado... Ele entrou e percebeu que aquilo talvez tivesse alguma importância.
O pessoal do Arquivo Público aponta que essa descoberta poderia reorientar as investigações da ditadura militar no Estado de São Paulo. A gente tem percebido que, na verdade, essa descoberta pode reorientar as investigações em todo o Brasil, não apenas em São Paulo.
CA - Você vai fazer esses documentos chegarem às mãos da Comissão Nacional da Verdade ou a Estadual?
TB - O Ivan Seixas (do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Condepe) está acompanhando o projeto desde 2010. Parece que ele ia oficializar isso para encaminhamentos. Mas a Comissão já solicitou às delegacias comuns que enviassem a eles toda a documentação do período também.
Então, esse já é um primeiro desdobramento dessa descoberta.
CA - O que é exatamente esse projeto inteiro?
TB - O Memórias da Resistência, que surge a partir do edital de Mídias Livres, do Ministério da Cultura, tem quatro focos, um é a produção de boletins; a gente já produziu quatro boletins, distribuídos gratuitamente para centros de pesquisas, bibliotecas, enfim, em catorze estados. Esse projeto tem também uma parceria com o Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, então, a gente integra o banco de entidades do Memórias Reveladas.
A gente também produziu um portal na internet, e agora, creio que a partir de janeiro, a gente vai disponibilizar gradualmente o acesso a toda essa documentação; o livro, que está sendo lançado agora e, por fim, o documentário que é o último eixo de ação do projeto.